segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

‘Benedetta’: Sagrado e profano misturados

 

Por Renato Félix*

BENEDETTA

⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2022: 7
Onde ver: cinemas.

Sagrado e profano misturados

Paul Verhoeven nunca foi de fugir de polêmicas e viu uma matéria-prima e tanto na história real da freira que, no século XVII, foi processada por alegar ter visões de Cristo e ter um relacionamento lésbico com uma colega de convento. Benedetta transita nessas duas vertentes e não alterna entre elas: as mistura, fazendo o sagrado se entrelaçar ao (muito) profano.

Benedetta (Virginie Efira) é tida como milagrosa desde a infância, quando entra para o convento. Crescida, vê chegar outra postulante que é exatamente o contrário: Batolomea (Daphne Patakia) não entra por vocação, mas para fugir do pai abusivo. O sexo, para ela, está longe de ser um tabu ou pecado, é algo extremamente natural.

Bartolomea acaba designada pela madre superiora (Charlotte Rampling) para acompanhar Benedetta, atormentada por suas visões. Benedetta é seduzida pela naturalidade sexual de Bartolomea. A partir daí, as visões erótico-religiosas de Cristo convivem com o sexo em que as duas chegam a usar uma imagem da Virgem Maria para masturbação. O sagrado e o profano totalmente misturados.

Isso surge como um espelho sublime para a mesma mescla que ocorre de uma maneira podre: as intrigas políticas e ambição financeira que levam a Igreja Católica a, por exemplo, aceitar Benedetta como profeta por pura conveniência (ter uma “santa” na cidade vai atrair dinheiro de fiéis e romeiros) e depois tentar se livrar dela por preconceito e inveja.

Se Benedetta é mesmo santa ou se apenas tem alucinações, isso importa menos que sua descoberta de si mesma e o ambiente repressivo e comercial onde está inserida. A partir disso, o filme tem desdobramentos às vezes previsíveis pela lógica, às vezes surpreendentes. A personagem nitidamente conquista a afeição Verhoeven, o que não é sempre que acontece.


Benedetta, 2021.
Direção: Paul Verhoeven. Roteiro: David Birke e Paul Verhoeven, com colaboração de Pascal Bonitzer, baseado no livro de Judith C. Brown. Elenco: Virginie Efira, Daphne Patakia, Charlotte Rampling, Lambert Wilson, Olivier Rabourdin, Louise Chevillote.

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Texto extraído do blog Boulevard do Crepúsculo
de autoria do jornalista, Renato Félix.


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