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sexta-feira, 12 de março de 2021

O homem que matou Corisco está em "Carniça" nova HQ de Shiko





Há algumas semanas, o quadrinista paraibano, Shiko, lançou o volume 1 de sua nova obra intitulada "Carniça e a blindagem mística"(confira nossa resenha ao clicar aqui), que apresenta a participação feminina no cangaço por meio da ficcional cangaceira Mazinha de Beata que ficaria conhecida como "Carniça". 

O primeiro volume da HQ é divido em três linhas narrativas temporais em que personagens distintos são apresentados para nós leitores, porém o inicio da HQ é marcado por um fato ocorrido no começo dos anos 60, quando o renomado escritor e dramaturgo, Ruy Guerra, entrevistou o Coronel José Rufino, também conhecido como o matador de cangaceiros. E para que você tenha a experiência de sentir o que te espera na leitura da HQ, reproduzimos abaixo na integra a entrevista.


O HOMEM QUE MATOU O CANGACEIRO "CORISCO"
Por Ruy Guerra*


O sol do meio-dia fazia da praça de Jeremoabo/BA um imenso deserto.

Lembro-me que tudo se passou naquele ano triste de 1962, ano da morte de Miguel Torres, no acidente desse mesmo jipe agora ali estacionado, coberto de poeira, junto da única loja aberta naquele vazio do mundo.

Só não me lembro como foi que o coronel Rufino surgiu, sentado no bar, esfíngico, vestido de uma camisa e calça caqui, sem atinar muito bem o que queríamos dele. Nós, igualmente calados, sem outro intuito que o de trocar umas palavras com o homem que matou Corisco.

Mas dali para a frente tudo ficou marcado em mim com uma nitidez que chega a assustar. Cada gesto, cada palavra, cada silêncio, foi ficando através do tempo mais depurado, mais definido, mais exato. Não há um detalhe, uma palavra, um sentimento, de que eu não tenha a serena convicção que foi assim, rigorosamente como tudo se passou.

Pedi um cerveja, que chegou morna.

O coronel Rufino, e não sei porque isso devia me surpreender, pediu um sorvete de morango. O Miguel Torres, por uma dessas maldades da memória, deixou de estar presente. Houve um silêncio largo, desses silêncios de quando estranhos se medem e se perguntam a si mesmos como começar essa aventura que é a de se conhecer.

Do coronel Rufino eu sabia tudo o que me parecia importante saber: que era o maior caçador de cangaceiros ainda vivo, que há muito estava aposentado, que era natural dali mesmo, daquele sertão. De nós, imagino, ele sabia apenas que fazíamos cinema e pensávamos filmar por aquelas bandas. E não parecia particularmente interessado em saber mais. Aceitava o encontro como a inevitável curiosidade que desperta quem traz a marca de ter matado o cangaceiro mais mítico de toda a história do cangaço.

Página da HQ 'Carniça"

Com movimentos pausados, de quem tem toda a velhice diante de si para gastar, ia sorvendo seu sorvete de morango.

O que mais me marcou naquele encontro, logo de saída, foi isso mesmo: o sorvete de morango. A cor desmaiada do sorvete barato, a colherzinha vagabunda na mão grossa, seca, veienta, com o dedo mindinho ridiculamente afastado dos outros dedos.
Por que um sorvete, e ainda mais de morango?

Por causa desse insólito sorvete me custou a lançar a conversa.

Comecei com perguntas banais das quais já conhecia as respostas, e que não justificam o desvio que havíamos feito por aquelas poeiras calorentas do sertão para aquele eventual encontro. Se ele, coronel Rufino, havia comandado muitas volantes atrás de cangaceiros. Se toda a sua vida se havia dedicado a essa caça, se havia perseguido Lampião. Se havia dado voz de sangrar a muito bandido.

A cada pergunta, Rufino ia monossilabicamente confirmando, pausado, aparentemente mais atento ao sorvete de morango que ao óbvio questionário.

- E Corisco? O senhor matou Corisco?
- Matei.

O Coronel Rufino não era um homem alto, nem tinha nada que à primeira vista pudesse impressionar alguém que não soubesse do seu passado. Nos seus, imagino, sessenta e tantos anos, não se sentia nele um grama de gordura. Tinha um rosto marcadamente nordestino, sem emoções visíveis, uns olhos fendidos preparados para os exageros da luz da caatinga e uma voz surpreendentemente jovem.

Parecia desinteressado, embora cortês. Senti que ele estava, não ansioso, mas determinado a terminar o encontro com o final do seu, para mim já irritante, sorvete de morango.

Foi essa certeza e o sentimento da idiotice das minhas perguntas que me fizeram perguntar de supetão gratuitamente:

- O senhor, coronel, torturou muita gente?

- O coronel Rufino parou de comer o seu sorvete, a mão pesada, suspensa no ar, a meio caminho.
Pela primeira vez senti que pensava rápido, embora o tempo durasse. Depois, delicadamente, pousou a colher. Até então ele nunca me havia encarado, e continuou assim.
Limitou-se a olhar a imensa praça vazia, assustadoramente amarelada pela crueza do sol.

- Seu João!

A voz continuava controlada, e embora o tom não tivesse aparentemente subido, atravessou a distância. Foi então que eu notei que um camponês desgarrado estava passando.

O homem entrou no bar. As alpercatas de couro sem ruído, o chapéu de palha agora respeitosamente na mão, um olhar rápido para os forasteiros.

- Sim, coronel? O coronel falou num tom macio, quase afetuoso.
- Seu João, o senhor me conhece há muito tempo, não é verdade?
- Conheço sim, coronel.
- Quem sou eu?

Uma leve estranheza na voz do camponês.

- O senhor?... O senhor é o coronel Rufino.
- Eu persegui muito cangaceiro, não persegui? - Perseguiu, coronel.
- Eu matei muito cangaceiro, não matei? - Matou, coronel.

A voz de Rufino continuou, inalterada.

- Eu torturei muito cangaceiro, não torturei? A voz do coronel Rufino parecia ainda mais mansa, mais paciente.
- Eu torturei muito cangaceiro, não torturei? Os olhos do camponês correram por nós, intrigados.
- Não, coronel... Não, senhor.
- Obrigado, seu João. Pode dispor!

Com um leve aceno de cabeça para todos o camponês afastou-se. O coronel Rufino esperou que o homem desaparecesse no sol da praça e só então me encarou, pela primeira vez.
Os olhos fendidos sem expressão, talvez por isso mais inquietantes, aprisionando os meus. A voz sempre igual, mas onde se podia sentir agora, nítida, uma intensa paixão.

- "Toda a minha vida eu persegui cangaceiro. Prendi muitos, também dei fuga a muito pobre-diabo que se meteu nessa vida por injustiça que sofreu. Mas matei muitos, muitos mesmo. De bala, de faca, de todo o jeito. Era a minha profissão".

Levantou a mão, espalmada, à altura do rosto. Essa mesma mão, que até então tinha servido para comer aquele irritante sorvete de morango. Foi uma pausa curta, mas guardo aqueles breves instantes como os de uma indefinível angústia.

- "Mas esta mão, esta mão que o senhor está vendo aqui, nunca tocou o rosto de um homem, fosse quem fosse, nem do pior bandido. Porque homem a gente mata, sangra..."

Passou a mão suavemente pela própria cara.

- Mas tocar o rosto de um homem, só sua mulher e o barbeiro têm o direito de tocar".

O coronel Rufino retomou a colher e continuou a comer o interminável sorvete de morango. Lembro-me de ter sentido um imenso alívio, como se tivesse vindo de muito longe. E tinha, como compreendi mais tarde.

Daí para diante não me lembro de mais nada. Não sei como nos separamos, se trocamos mais alguma palavra - o que duvido - além de alguma banal despedida. Mas ao longo dos anos comecei a relembrar e a contar, obsessivamente, este encontro. Não com o sentimento de ter escapado de algum perigo - embora ainda hoje não esteja muito certo disso -, mas com a desconfortável convicção de ter ido tão fundo naquele sertão para ingenuamente insultar um homem na sua hospitalidade, na sua memória, no seu mundo.


Texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 1993, e reproduzido do livro "20 Navios", de Ruy Guerra. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1996, prefácio de Chico Buarque, 228 páginas.

*RUY GUERRA: Cineasta, escritor, dramaturgo, compositor (parceiro de Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime etc..), ator..etc..

domingo, 28 de junho de 2020

Mesa de Leitura entrevista Manassés Filho

Convidamos à todos a assistirem e participarem da transmissão ao vivo que será realizada, dia 12/06/2020, as 18h,  no perfil da Mesa de Leitura
Na ocasião, Manassés Filho, estará à convite de Alencar Neto, advogado e mestre em relações internacionais, para dialogarmos a respeito de HQs, arte e dos elos sistêmicos que as conectam em questões sociais. Neste diálogo será enfatizado a capacidade e o poder das artes no processo de reflexão e exposição das feridas que muitas vezes estão em eterno processo de cicatrização em nossa sociedade. 
@netoalencar88 é um excelente orador e com sua habilidade irá conduzir a conversa de forma competente e possibilitando inúmeras provocações necessárias a democracia.


Aos que não puderam assistir, inserirmos abaixo o vídeo na integra.

Ver essa foto no Instagram

Tema: Quadrinhos, arte e questões sociais

Uma publicação compartilhada por Mesa de Leitura (@mesadeleitura) em

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Revista de Cultura entrevista


Amanhã, sexta-feira, às 20h, no perfil da Revista de Cultura, existente no Instagram,estarei à convite de Ana Simonaci, escritora, editora e pesquisadora, para dialogarmos a respeito de HQs, arte, mercado e dos elos sistêmicos que as conectam em questões sociais.
Certamente será um diálogo permeado por reflexões e interessantes provocações em que @anasimonaci, que possui um carisma natural e excelente articulação na oratória irá conduzir com a competência habitual.
Sigam o perfil da @revistasdecultura e amanhã estejam presentes para participar de nosso diálogo.
Aos que não conseguirem assistir, logo mais irei disponibilizar o vídeo, o qual estará abaixo deste texto.




sexta-feira, 5 de outubro de 2012

'O Ateneu' no traço de Marcello Quintanilha


Quintanilha
Depois de ter a versão do paraibano Shiko para o romance O Quinze, da cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), a coleção Clássicos Brasileiros em HQ mostra O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), no traço do fluminense radicado na Espanha Marcello Quintanilha.

Premiado em 2009 como Melhor Álbum no HQ Mix para Sábado dos Meus Amores (Conrad), o quadrinista empresta seus desenhos realistas para a obra naturalista lançado em 1888, época da abolição da escravatura.

O livro conta a história de Sérgio, um menino que é enviado para um colégio interno renomado na cidade do Rio de Janeiro, chamado Ateneu, mantendo os rígidos princípios da aristocracia.



Entrevista


JORNAL DA PARAÍBA - Como partiu o convite para adaptar ‘O Ateneu’?
MARCELLO QUINTANILHA - O Convite partiu da Ática, do editor Fabricio Waltrick. E foi irrecusável pelo fato do livro proposto haver sido O Ateneu, um de meus livros favoritos. 

- Quais foram as dificuldades de adaptação da obra de Raul Pompeia? Quanto tempo durou?
- Eu diria que o principal desafio é o de apropriar-se de um texto alheio e convertê-lo em um discurso pessoal. Todo o processo de realização da história foi de cerca de um ano e meio.
  
- Como você vê essa onda de adaptações literárias, principalmente aqui no Brasil?
- Vejo com certa reserva, na medida em nem sempre é indicado a condensação de longos romances em álbuns de apenas algumas dezenas de páginas. O reduzido número de páginas pode comprometer seriamente as adaptações.

- Como está sua carreira na Europa? Tem algum outro projeto para lançar aqui no Brasil?
- Neste momento acabo de lançar o último numero da serie na qual trabalho em parceria com Jorge Zentner e Montecarlo, Sete Balas para Oxford e é cedo para pensar em novos projetos, principalmente porque foi um álbum que produzi quase ao mesmo tempo em que O Ateneu. Ultimamente tenho trabalhado também com publicidade.
 
(Matéria publicada no Jornal da Paraíba em 03/10/2012)

Para os quiserem conhecer mais sobre o trabalho de Marcello Quintanilha, cliquem aqui



O Ateneu
de Raul Pompeia, adaptado por Marcello Quintanilha
96 páginas » Capa Cartão
Lombada Quadrada » Papel Couchê 
Formato 19,5 x 13cm
Editora Atica
R$ 36,00



Quer adquirir a sua? Entre em contato!
Telefone: (83) 3227.0656
Av. Nego, 255, Tambaú (João Pessoa-PB)




sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Comic House é notícia no Portal Ampliar PB

Manassés Filho, dono da Comic House, deu uma entrevista ao Portal Ampliar, falando a respeito do nascimento da loja e quais foram as idéias iniciais para a empreitada. Ele também conta o início da sua paixão por quadrinhos, o uso das mídias digitais e as noites de autógrafos. Leia um trecho:
Manassés Filho contou que seu interesse por hq's vem desde a infância e recorda como se fosse hoje quando pediu a tia para comprar a edição da revista Hulk nº42, aos sete anos de idade. “Porém, nesta época até a adolescência, o hábito de ler quadrinhos tinha mais caráter lúdico do que ‘ver’ as entrelinhas”, observou.

Já o interesse em abrir seu próprio negócio, vem da sua filosofia de vida. “Acredito que devemos sempre trilhar pelo caminho de trabalharmos com o que gostamos e como consequência nos sentimos realizados”, argumentou. Ele revelou que na fase do planejamento e escolha de qual rumo tomar, pensou em abrir uma livraria, locadora de filmes ou uma livraria especializada.
Danilo Beyruth e Manassés Filho na noite de lançamento de Bando de Dois.
Para ler a matéria inteira, visite a página do Portal Ampliar: http://www.ampliarpb.com.br/noticia/view/642

Comic House quadrinhos que não estão no gibi
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Entrevista com Daniel Galera e Rafael Coutinho

 No dia 16 de novembro, às 19h, aconteceu na Comic House o lançamento do livro Cachalote, desenhado por Rafael Coutinho e roteirizado por Daniel Galera. Numa entrevista para a aluna da UFPB Nathália Gomes, os autores falam a respeito do romance gráfico e dos primeiros contatos com as HQs.



Leia a notícia sobre a Noite de Autógrafos.
Leia a nota sobre o evento.
Leia a respeito do almoço com os autores.


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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Entrevista com Gustavo Duarte (Metrópolis - TV Cultura)


Esta entrevista foi veiculada no programa Metrópolis, da TV Cultura, em 1 de novembro de 2010.

Amanhã e sábado teremos Gustavo Duarte em João Pessoa. Na primeira noite, acontecerá a palestra no Centro de Cultura Zarinha. São 30 vagas. Para se inscrever, mande email para comichousevendas@gmail.com. Na segunda noite, teremos o lançamento de Taxi na Comic House, a partir das 18h. Ambos os eventos são gratuitos e você já pode adquirir seu exemplar de Taxi em pré-venda na loja.

Mais informações sobre o lançamento de Taxi.
Mais informações sobre a palestra.



Noite de Autógrafos com Gustavo Duarte
Lançamento de Taxi


11 de dezembro de 2010, das 18h às 21h.
Entrada gratuita.

Já é possível garantir seu exemplar de Taxi, que está em pré-venda na Comic House.
Formato: 20 x 20 cm, preto e branco
Edição independente
R$ 12,00

Comic House quadrinhos que não estão no gibi
Telefone: (83) 3227.0656
Endereço: Avenida Nego, 200, Tambaú (João Pessoa-PB)
Twitter: @Comic_House 


 
Bate-papo com Gustavo Duarte
Abordando mercado editorial, roteiro e produção


Sexta-feira, 10 de dezembro de 2010, às 19h
Centro de Cultura Zarinha
Avenida Nego, 140, Tambaú


Entrada gratuita
30 vagas
Reservas pelo email comichousevendas@gmail.com

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Resultados da conferência com Killoffer


Antes de ir ao Rio de Janeiro para o Rio Comicon, Patrice Killoffer parou em João Pessoa e participou de três dias de eventos. O primeiro deles foi a exposição na Aliança Francesa, no dia 2/11. No dia seguinte, aconteceu o lançamento do livro Quando tem Que Ser, publicado no Brasil pela editora paraibana Marca de Fantasia. Por fim, no dia 4/11, Killoffer despediu-se da capital paraibana com uma conferência, que aconteceu no Zarinha Centro de Cultura.

Killoffer apresontou seu trabalho, falou de sua produção de quadrinhos e trabalhos publicitários realizados para diferentes empresas, inclusive para a Eurostar, empresa de trem que tem a viagem Londres - Paris como a mais famosa da empresa.

Brincalhão, Killoffer mostrou diversas imagens publicitárias que fez mas não foram aceitas pelas empresas, seguidas das que foram aceitas. Também mostrou cenas de outras obras em quadrinhos, desenhos que fez para exposições e falou um pouco de sua vida e dos acontecimentos que influenciaram suas escolhas profissionais. Nos contou sobre o livro Killoffer de Bolso, que foi feito por um amigo, como uma brincadeira, e muitos acreditam ser dele.

Apesar de retratar situações de sua família em seus trabalhos, como em Roupa Suja em Família, uma das histórias de Quando Tem Que Ser, Killoffer não acredita que os quadrinhos funcionem como terapia ou cura para traumas passados, mas que as histórias precisam ser contadas ainda assim, por mais difícil que seja expor os sentimentos. Quando indagado se já enfrentou problemas por retratar relacionamentos com amigos e familiares, Killoffer disse inicialmente que não. Então, lembrou-se de uma namorada finlandesa, que não aprovou algumas situações retratadas e citou que nunca mostrou Roupa Suja em Família para sua mãe, por falar justamente dela.

Killoffer respondeu perguntas sobre o cenário atual da HQ européia e confessou que está em crise, pois os novos talentos são grandes desenhistas, mas lhes falta ter o que contar. Ele acredita que nos próximos anos esta situação deve se alterar, já que isso aconteceu anteriormente. Na década de 1970, por exemplo, apareceram grandes talentos tanto no roteiro quanto no desenho, o que levou o mercado de HQs ao ápice.
Foto de Henrique Magalhães.

O quadrinista francês já teve trabalhos publicados nos jornais Le Monde e El País, não lê webcomics e prefere HQs de ficção às jornalísticas, por achar que o meio não garante a formalidade de que o jornalismo necessita. Seu trabalho mais recente é a série de publicações diárias Killoffer em... nas quais mostra aventuras e desventuras de seu cotidiano e vida profissional.

Killoffer terminou a conferência com uma breve rodada de autógrafos e animadas canções francesas. Veja abaixo algumas das imagens exibidas na palestra e ouça um pedaço da conversa com o autor.

Killoffer canta animadamente no final de sua palestra. Foto de Henrique Magalhães.







Leia mais sobre a exposição na Aliança Francesa.
Leia mais sobre a noite de autógrafos na Comic House.
Leia a resenha crítica de Quando Tem Que Ser, feita por Henrique Magalhães.

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Entrevista com Mort Walker, criador do Recruta Zero

Recruta Zero 60 anos
por Renato Felix (editor do jornal Correio da Paraíba)


O exército americano é uma grande piada - ao menos nas tiras do Recruta Zero, um dos mais populares personagens dos quadrinhos, que completa 60 anos este mês. Criação do cartunista Mort Walker, hoje com 86 anos, o soldado folgado e preguiçoso é publicado atualmente em 1.800 jornais ao redor do mundo. E Walker, um dos principais nomes da história das HQs conversou por e-mail com o CORREIO sobre o aniversário.


Mas poderia ter sido bem diferente. Zero (Beetle Bailey, no original) estreou em 4 de setembro de 1950 não como um recruta, mas estrelando uma tira ambientada em uma universidade. Como tal, era claudicante: quando uma tira precisava ser publicada em pelo menos cem jornais para ser um sucesso, Zero chegava a 40 com esforço. Sob o risco de ser cancelada, a Guerra da Coreia acabou sendo motivo para Mort Walker fazer o malandro estudante se alistar.

“O editor de um grande jornal escreveu para o syndicate (que distribui as tiras nos EUA) e disse que Zero deveria se alistar, como todos os jovens da idade dele na América”, conta o quadrinista. “Eu não queria, mas eles insistiram. Foi imediatamente um sucesso e eu comecei a ganhar mais jornais”.


Os militares, evidentemente, torceram o nariz. “No começo, o exército não gostou de me ver fazendo graça deles e não deixou Zero ser publicado nos jornais militares”, lembra Walker. “Então, os leitores deles reclamaram e eles começaram a usar minha tira. E ela se provou tão popular que eles, afinal, me deram um prêmio e houve uma grande parada em minha homenagem no gramado da Casa Branca”.

Começou a surgir uma galeria de outros tipos impagáveis: Zero ganhou a companhia do tão violento quanto infantil Sargento Tainha, do tão molenga quanto vaidoso General Dureza, do inocente Dentinho e outros. “Todos os meus personagens são baseados em pessoas que conheci, com diferentes personalidades”, diz. “Isto mantém os personagens consistentes. Alguns são mais engraçados que outros. Eu gosto do Zero, do sargento e do general. A Dona Tetê (a secretária bonita do general) não é engraçada, mas eu a adoro”.

A tira se mantém em alta com a mesma filosofia e poucas mudanças. “Não acho que ela mudou muito. Tento mantê-la em dia com as mudanças, mas evito comentar assuntos políticos ou a guerra. Zero permanece em treinamento básico, o treinamento simples que cada soldado tem que fazer”, conta Mort Walker, que hoje escreve junto com três colaboradores e faz o lápis de todas as tiras - um de seus filhos, Greg, faz a artefinal.

“Nós passamos nossas ideias para o papel e uma vez por mês nos encontramos para selecionar as melhores”, diz Mort Walker sobre o sistema de criação das tiras do Recruta Zero. “Juntos, temos 120 esboços e usamos cerca de 30 - temos milhares em estoque. É difícil dizer quantas das ideias que uso são minhas, mas gosto de usar meu próprio trabalho, então diria que cerca de metade das que uso são minhas”.

Walker criou outras tiras. A principal foi Zezé & Cia. (Hi and Lois, no original), um derivado com a família de Zero que ganhou vida própria. “Vários quadrinhos americanos fizeram sucesso durante a II Guerra, mas morreram depois. Minhas guerras (Coreia e Vietnã) continuavam e fiquei preocupado se a tira sobreviveria quando acabassem. Foi por isso que criei Zezé & Cia.”.

Hoje, porém, ele não tem mais relação com a tira. “Eu costumava escrever, mas passei para dois dos meus filhos, Greg e Brian, e o filho de Dik Browne (criador de Hagar, o Horrível), Chance. Dik é quem desenhava a tira, escrita por Walker.

Um de seus principais trabalhos é a criação do National Cartoon Museum, em 1974, cujo acervo está atualmente na Ohio State University - um novo museu deve abrir no ano que vem. Ele sempre foi um defensor da valorização da profissão e acha que os quadrinistas são mais respeitados hoje em dia, mas em termos. “Eles não têm qualquer respeito quando syndicates os jogam fora como se não tivessem valor”, afirma.


Entrevista originalmente publicada ontem, 19/09/10, no Caderno 2 do Jornal Correio da Paraíba, do qual Renato Félix é editor.


Comic House quadrinhos que não estão no gibi
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