sexta-feira, 13 de junho de 2014

Cuba - Minha Revolução, de Inverna Lockpez, Dean Haspiel e José Villarubia







Por Nina Sedova


Algumas dezenas de jovens desembarcam em solo cubano em busca de realizar uma revolução, após serem atacados, pouco mais que um punhado deles sobrevive... tempos depois, em 1º de janeiro de 1959, o exército rebelde marchava sobre Havana, protagonizando assim um dos maiores feitos da história recente do continente americano: um pequeno grupo de jovens inicia uma revolução que, após ganhar o apoio das massas cubanas, derrota um ditadura (apoiada pelos EUA) e subverte a ordem e o status quo no país.
Desde então, não sem motivos, a Revolução Cubana, seu atos prodigiosos e o regime que daí surgiu impressionou a todos, e gerou profundos debates e controvérsias. Cuba, então, tornou-se, na boca dos mais conservadores, o perigo comunista constantemente evocado para justificar suas posições (mesmo que isso consistisse na defesa de ditaduras). Por outro lado, entre os defensores do regime da Ilha, Cuba tornou-se uma espécie de paraíso, um lugar idílico, no qual o germe de uma sociedade comunista, justa e sem máculas principiava em nascer sob os auspícios dos discursos – com oito horas de duração – de Fidel.
No entanto, entre um extremo e outro, o que existe de verdade? Qual a natureza do regime castrista? Seriam os seus desertores traidores da revolução ou pessoas comuns fugindo de uma ditadura? Obviamente, as respostas a todas essas perguntas não são simples, precisam de explicações históricas e complexas, mas podemos encontrar algumas indicações (e provocações) a respeito disso no quadrinho “Cuba, minha revolução”.
O quadrinho tem um roteiro auto biográfico escrito por Inverna Lockpez(artista plástica cubana que vive exilada nos EUA. Uma breve biografia sua pode ser encontrada em http://www.invernalockpez.com/bio/index.htm) arte de Dean Haspiel e foi publicado pelo selo Vertigo em 2013, mas só chegou ao Brasil em 2014 com capa dura e um bom papel. Ao longo de pouco mais de 140 páginas acompanhamos a história de Sônia, uma jovem de classe média que se encanta com a Revolução e decidi dedicar sua vida a ajudar na construção de uma nova Cuba. O primeiro passo que Sônia dá nesse sentido é entrar na faculdade de medicina, a despeito de seu sonho de se tornar artista plástica, Sônia acredita que Cuba tem maior necessidade de médicos, e decidi sacrificar, mesmo que momentaneamente, seus interesses pessoais. Além disso, a jovem se alista numa espécie de milícia revolucionária onde recebe treinamento militar.
A partir de então se inicia uma relação de amor e ódio com a Revolução. Ao passo que Sônia acredita sinceramente na possibilidade de um novo país surgir sob a direção de Castro, uma série de contradições e problemas surgem no caminho. A Revolução passa longe de daquilo que foi idealizado por Sônia, e uma série de medidas autoritárias e burocráticas tomados pelo governo Castro conflitam com os princípios nos quais a jovem acredita.
A vida de Sônia, sua família e a defesa daquilo que ela acreditava ser a sua Revolução vão ficando cada dia mais difíceis: escassez de produtos de primeiro ordem, repressão, falta de liberdade de expressão, amigos presos, torturas, campos de trabalhos forçados para traidores e desertores da Revolução (estes podem ser dissidentes políticos ou apenas homossexuais) e uma longa lista de etc. A própria Sônia, em decorrência de um pequeno ato de insubordinação, amarga alguns duros meses na cadeia.
A decepção é inevitável, e a ruptura com o regime castrista também. A solução final, a fuga para os EUA, embora seja um clichê, não deixa de ser verdadeiro. E é exatamente no desfecho que encontramos o ponto mais baixo da história: a apresentação dos EUA como a “terra da liberdade”! Nada poderia soar mais falso, já que a própria história contada mostra que, ao menos em parte, os EUA são cumplices ou culpados pelas misérias do povo cubano. Seja apoiando ditaduras como a que precedeu o governo de Castro, seja ameaçando constantemente a ilha com invasões militares.
Apesar do final um tanto quanto hollywoodiano, o conjunto do quadrinho não é comprometido, e pode-se dizer que ele consegue construir um quadro complexo e realista da situação cubana sem cair em maniqueísmos ou simplismo, seja de um lado ou de outro.
Agora, um comentário sobre a arte: Dean Haspiel e José Villarrubia utilizam um recurso já bastante conhecido, com a história sendo contada toda em preto e branco, mas usando o vermelho para os elementos que o artista quer chamar a atenção, num estilo “A Lista de Schindler”. Um recurso que funcionou muito bem no quadrinho, pois consegue dar dramaticidade na medida certa, escapando de obviedades. O desenho de Haspiel é bom e convence, as cores de Villarrubia dão vida.
Em síntese, “Cuba: minha revolução” é uma boa história, não é ótima, mas é boa! Vale a pena ser lida, de 0 a 10, eu daria entre 6 e 7. E considerando que trata de assuntos e eventos tão marcados por produção panfletárias, a sugestão de leitura é ainda mais válida.



Título: Cuba Minha Revolução
Autores: Inverna Lockpez (roteiro), Dean Haspiel (arte) e José Villarubia (cores)
Formato: 17,5 x 23 cm
144 páginas
Capa Dura
R$ 48,00



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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Pré-Venda: A vida de Jonas, de Magno Costa e Marcelo Costa




 
Um ex-alcoólatra abandonado pela mulher e desempregado lutando para ficar sóbrio e ter sua tão sonhada segunda chance. Uma história sobre corações partidos, amizades testadas, fantasmas pessoais e cicatrizes que não se curam.

À primeira vista, vendo a sua belíssima capa hiper-realista, A vida de Jonas parece um livro infantil, mas, quando se passa a vista pela sinopse, o álbum se ambienta em um clima pesado e adulto, carregado de culpa, autopiedade, egoísmo e vício.

Junto com seu irmão gêmeo Marcelo, Magno já havia utilizado sua arte em personagens antropomórficos, a exemplo do independente Bro (coletivo Bimbo Groovy) e de Oeste Vermelho (Devir), que lhe rendeu o Troféu HQ Mix de Desenhista Revelação de 2012. Desta vez, ele se inspira em fantoches do tipo Muppets, os famosos personagens criados pelo norte-americano Jim Henson (1936-1990) para séries de TV e cinema.

Se for para fazer paralelos, a obra seria como se os Muppets fossem dirigidos por nomes como Billy Wilder ou Blake Edwards, diretores de Farrapo humano (1945) e Vício maldito (1962), respectivamente, clássicos acerca da temática do alcoolismo.

A história parte da íngreme e tortuosa fase de reabilitação social de Jonas, um ex-alcóolatra que perdeu a mulher e tenta recuperar sua vida.
Seus amigos ficam com um pé atrás ou simplesmente desaparecem do seu círculo, que se torna cada vez mais unitário pela compressão da solidão e do abandono marginalizado pela sua vida social em virtude dos pecados pregressos.

A vida de Jonas é de uma franqueza que se torna desconcertante. Não dá para deixar de sentir pena do protagonista, que faz suas compras e para atônito em frente da seção de bebidas do estabelecimento ou comprime seu nariz de espuma no vidro da viatura quando se excede em casa, na época em que ainda estava com sua esposa.
O álbum poderia muito bem ser retratado com “seres humanos de verdade”, mas as marionetes – não somos todos manipulados pelas cordas dos nossos sentimentos e vícios? – oferecem uma nova perspectiva e um quê a mais na tragédia.

O sorriso sem graça do personagem, uma constante pelo motivo supracitado, pode perfeitamente se espelhar em muitos momentos amargos que poderíamos passar, nos quais o mundo continua girando sem você. Todos à sua volta podem ver seu sorriso amarelo, mas não podem ver você gritar desespera e silenciosamente por dentro.
A sociedade molda aquele sorriso constante como os cirurgiões plásticos o reconstroem nos rostos das inexpressivas madames que mascaram falsas simpatias repuxadas com o botox. Assim, a inexpressividade dos “fantoches” se torna uma expressividade palpável e interpretativa aos olhos mais atentos do leitor.

Jonas arranca raiva e compaixão ao mesmo tempo, seja pela situação em si, seja pela sua falta de amor próprio ou pelos momentos egoístas. Um personagem falho, que tem suas recaídas e acertos como qualquer “ser humano”.
O autor faz uma história sem esbarrar na pieguice, apesar de utilizar alguns clichês lúgubres, como o enterro na chuva ou a conversa frente ao túmulo. Cativa a HQ ser despretensiosa, rica, direta e simples, qualidades enaltecidas pelo prolífero quadrinhista André Diniz (de Morro da favela), que assina o prefácio da edição.

Por falar em chuva, a “tempestade que se avizinha” na narrativa faz uma metáfora para um momento fundamental. Houve também um temporal, literalmente, no relato bíblico da vida do profeta Jonas, que acaba sendo lançado ao mar pela agitação meteorológica, terminando no estômago de um “grande peixe”. Justamente foi o arrependimento que salvou o israelita.

No quesito artístico, Magno tem um traço limpo e elegante diante do clima pesado, que ganha ainda mais evidência no sensível e vital trabalho de cor de Marcelo Costa. Distintos também são as suas angulações, perspectivas, cortes temporais e “silêncios”.

O álbum foi feito com muito zelo e cuidado pela Zarabatana: capa com detalhes em verniz e orelhas, papel couché brilhoso, impressão de alta qualidade, formato 20, 4 x 29,5 cm e esboços de estudos dos personagens com os comentários de Magno nas páginas finais.

Vale ressaltar que o projeto teve o apoio da Secretaria da Cultura de São Paulo, por intermédio do ProAC – Programa de Ação Cultural.

Um trabalho de destaque nos lançamentos do primeiro semestre de 2014, feito por quadrinhistas que têm seu talento herdado no DNA, que deixaram de ser uma promessa a cada novo trabalho lançado. Altamente recomendado.


Título: A vida de Jonas
Autores: Magno Costa(roteiro e desenhos) e Marcelo Costa(cores)
64 páginas
R$ 40

Previsão de chegada: 23.05.2014

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(Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 06 de junho de 2014)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Pré-Venda: Os ignorantes, de Étienne Davodeau



Por Audaci Jr

O quadrinhista Étienne Davodeau não sabe muito sobre o mundo do vinho. Richard Leroy é vinicultor e quase nunca leu quadrinhos.

Durante mais de um ano, Étienne foi trabalhar nos vinhedos e na adega de Richard, que, em troca, mergulhou nas páginas das HQs e na vida profissional do autor.

Davodeau afirma que existem tantas maneiras de fazer um livro quantas de produzir vinho. Ele constata que ambos têm o poder, necessário e precioso, de aproximar os seres humanos.

Vinhos e quadrinhos. O máximo que se pode imaginar a princípio é uma prazerosa leitura acompanhada da degustação de uma taça de uma boa safra, tinto ou branco.
Uma proposta inusitada do quadrinhista Davodeau ao vinicultor Leroy resulta em uma documentação com muitas surpresas, incluindo a maior delas: que o processo de cultivo nos vinhedos tem muito em comum com o de produção de uma história em quadrinhos.

A experiência é concebida de forma orgânica. Muitas características semelhantes nas ações são percebidas por Leroy, que topa ser personagem do álbum, mas sempre está com a cabeça na poda da sua plantação.

O leitor pode até lembrar-se de imediato do ótimo Sideways (2004), filme de Alexander Payne com Paul Giamatti (de Anti-herói Americano), mas as semelhanças ficam apenas na degustação e visitação de vinhedos. O “drama” aqui é bem mais tranquilo. Isso também não indica que seja menos prazeroso.
É apresentado o cultivo das videiras baseado na biodinâmica, processo adotado por Leroy em que nos cuidados com o solo, como a adubação, não são utilizados produtos químicos. E é mostrado que o procedimento é tão subjetivo quanto “gostar” ou “apreciar” a arte de uma HQ.

Entre o controle do crescimento das videiras, a avaliação de barris para a futura fermentação, o repouso, engarrafamento, degustação, maturação e visita de críticos de outras partes do mundo, vai sendo mostrado também o processo de fabricação de um álbum europeu.

Perfeccionista, Davodeau acompanha o demorado e meticuloso processo de verificar e corrigir erros dos testes de impressão da capa e os cadernos da edição. Os personagens também visitam uma reunião editorial. Todos se debruçam como urubus na carniça quando chegam novos originais de Jean-Pierre Gibrat.

Gibrat, por sinal, é um dos artistas que recebe a visita da dupla. Eles também batem à porta Marc-Antoine Mathieu e Emmanuel Guibert, este último autor de A guerra de Alan e O fotógrafo, ambos lançados no Brasil pela Zarabatana e Conrad, respectivamente.

Dentre as visitas a eventos sobre quadrinhos estão retratados os festivais Quai-des-Bulles (o segundo maior da França, depois de Angoulême) e de Bastia, além da exposição de Moebius na Fundação Cartier de Arte Contemporânea, em Paris.

Interessante frisar que, no seu processo de conhecimento, o vinicultor não gosta da arte de Moebius, definido como um “Mozart e Jimi Hendrix ao mesmo tempo” na visita a Jean-Pierre Gibrat. Assim como o autor não consegue perceber as diferenças peculiares de um vinho para o outro, Leroy também se permite ser sincero no processo de conhecimento.

A bela arte em aguada impressiona pelos detalhes. Sua capacidade narrativa vai além de meramente “documentar” os acontecimentos.

Por meio dos relatos das leituras do vinicultor, Davodeau dramatiza suas leituras no leito da cama, onde pode dormir sobre um encadernado de Watchmen, “uma obra sutil e complexa sobre a mitologia dos Estados Unidos”, segundo a ótica do quadrinhista francês, ou obter de imediato uma explicação desenhada por Lewis Trondheim (de Gênesis apocalípticos + Os inefáveis) sobre por que ele se retrata com um bico nas suas HQs.

Até o papel do resenhista é abordado na obra, em ambos os lados. O vinho também é alvo de modismos e avaliações da imprensa. Davodeau atenta que as HQs são resenhadas, mas “a verdadeira crítica permanece muito confidencial”. Fica a dica.

O único deslize na edição fica por conta de não traduzir as obras que já foram lançadas no Brasil, a exemplo do já citado e crucial O fotógrafo (publicado em três volumes – veja as resenhas aqui: 1, 2 e 3). Esse trabalho extra faria com que o leitor menos atento aos títulos originais se interessasse em procurar os álbuns para enriquecer ainda mais o relato de Davodeau.

Dentre as obras não traduzidas no decorrer da HQ e no final (com uma lista de bebidas e quadrinhos lidos durante a experiência) estão o também já citado A guerra de Alan, de Guibert, Palestina – Uma nação ocupada (Conrad), de Joe Sacco, Morango e chocolate (Casa 21), de Aurélia Aurita, O Espinafre de Yukiko (Conrad), de Frédéric Boilet, Era a guerra de trincheiras (Nemo), de Jacques Tardi, Estigmas (Conrad), de Lorenzo Mattotti e Claudio Piersanti, e até Calvin e Haroldo (Conrad), de Bill Watterson.

Tirando isso, o trabalho da WMF Martins Fontes está à altura, com uma boa impressão em papel pólen, capa cartonada (sem orelhas) e formato 19,50 x 26,50 cm.

Primeiro trabalho de Étienne Davodeau no Brasil, a qualidade de Os ignorantes pode servir de “cartão de visitas” para novos álbuns brasileiros do autor francês, como Lulu, femme nue e Le chien qui louche.

Uma história que irá abrir a mente e o paladar do leitor pela curiosidade de não fazer mais parte da ignorância de apreciar um bom vinho ou virar a noite debruçado sobre as páginas de uma história em quadrinhos. O cardápio está sugerido em Os ignorantes, para consumir sem tanta moderação assim.


Título: Os ignorantes
Autores: Étienne Davodeau (roteiro e desenhos)
272 páginas, formato 19,50 x 26,50 cm
R$ 49,90

Previsão de chegada: 13.06.2014

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(Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 06 de junho de 2014)

terça-feira, 10 de junho de 2014

Venda: São Jorge vol 1, de Danilo Beyruth




 


Ao final do Século 3, o Império Romano apresenta fortes sinais de decadência. Levantes de regiões que buscam a independência explodem em toda parte e as tropas romanas procuram sufocar esses rebeldes a todo custo.

Além disso, há uma disputa de poder entre as tradicionais religiões romanas e a nova religião cristã, que conquista cada vez mais adeptos.

Nesse cenário, o tribuno Jorge destaca-se entre os soldados romanos. Com sua extraordinária tenacidade em combate, lidera vitórias e é celebrado como excelente guerreiro. Seu sucesso, entretanto, o torna alvo de intrigas políticas e o envia para uma missão mortal: caçar um inacreditável monstro.

São Jorge Guerreiro, tema de canções, santo padroeiro de diversas nações, protetor de incontáveis e apaixonados devotos. Para os yorubás, se sincretiza na forma de Ogum, orixá guerreiro, deus do ferro. Lutador incansável e invencível, mártir da fé cristã, matador de dragões, morador da lua, Oxóssi.

Uma figura tão espetacular, plural, intensa e rica de significados que abre várias possibilidades de narrativa, todas instigantes.

Nas mãos de um autor habilidoso, como Danilo Beyruth, a ideia é promissora. Ele opta por uma abordagem histórica e mais realista. Tanto o texto quanto os detalhes dos desenhos de armaduras, artefatos e arquitetura mostram um trabalho cuidadoso de pesquisa.

Há preocupação de situar o leitor quanto a fatos, datas e contextos, que são intercalados com páginas de confrontos ferozes entre tropas que possuem a mesma tradição romana de combate.

É dos campos de batalha, mais precisamente na página 50, que o leitor se depara pela primeira vez com a figura de Jorge e entende por que ele é tão celebrado como guerreiro. Sua habilidade em combate é impressionante, mas completamente verossímil, de acordo com a proposta realista do autor.

Mesmo abrindo mão, em um primeiro momento, do fantástico e do simbólico, Beyruth tem possibilidades riquíssimas para conduzir a história. Os bastidores do império, as intrigas pelo poder e, principalmente, o embate entre as religiões romana e cristã.

Fica evidente o desgosto do Imperador Diocletianus diante da expansão cristã e da ameaça que ela significa à sua própria fé. Quem tem a “verdade”? Não importa. A única certeza é de que pessoas vão morrer por isso.

Dentro dessa perspectiva mais comprometida com a realidade, como fica o famoso dragão de São Jorge? Beyruth apresenta uma solução fascinante, quase tão extraordinária quanto uma criatura mitológica. E este primeiro volume termina no melhor momento, deixando o leitor ansioso pela continuação.

O desenho de Danilo Beyruth é muito bem estruturado e o mesmo vale para suas composições de páginas. Entretanto, é nítido que o formato e a produção gráfica não colaboraram para valorizar o trabalho do autor.
Em comparação com Bando de Dois, vê-se que páginas maiores e uma impressão que aumentasse os contrastes do preto e do branco e intensificasse os cinzas poderia deixar as imagens com mais peso, ressaltando-as. Sem contar o tamanho (pequeno) das letras, que dificulta a leitura.

Não se sabe dizer quais as razões que levaram a Panini a essa escolha editorial, mas, possivelmente, foi para tornar a obra mais acessível pelo custo e tentar ampliar o público leitor. Mesmo assim, na opinião deste resenhista, São Jorge merecia uma publicação em formato maior, talvez em um único volume.

Ótima a iniciativa da Panini de publicar mais um autor nacional (o primeiro foi Vitor Cafaggi, com Valente) em bancas. Mas, editorialmente, faz falta um texto sobre a influência de Jorge em tantas culturas e religiões e a pesquisa de Beyruth. Além disso, há alguns erros de revisão, como “impresionar” (p. 21) e “ursupador” (p. 26). Nada que atrapalhe o prazer da leitura, mas vale ficar mais atento.


Título: São Jorge vol. 1 Soldado do Império
Autor: Danilo Beyruth(roteiro e arte)
Formato16 x 21 cm, 120 páginas em preto e branco
Preço: R$ 19,90


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 (Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 30 de maio de 2014)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Venda: O quinto Beatle, de Vivek J. Tiwary e Andrew C. Robinson & Kyle Baker







Recortes baseados na história do inglês Brian Epstein, o visionário que descobriu, empresariou e guiou os Beatles a um estrelato internacional sem precedentes, reescrevendo as regras da indústria da música pop nos anos 1960.

“Se existiu um quinto Beatle, ele foi o Brian”, afirmou, no ano de 1999, Paul McCartney sobre o empresário que alavancou a carreira dos quatro rapazes de Liverpool ao estrelato e à imortalidade na História da música mundial.
Como toda história de banda de rock, há controvérsias sobre esse “quinto elemento”. O quarteto já teve o baterista Pete Best e o baixista Stuart “Stu” Sutcliffe no seu palco. Inclusive este último foi o personagem central do filme Backbeat – Os cinco rapazes de Liverpool (1994) e do álbum Baby’s in black – O quinto Beatle (8Inverso), de Arne Bellstorf.

Para a grande maioria dos fãs, o posto deveria ser ocupado pelo produtor musical e arranjador londrino George Martin, mas, independentemente do título oficial, uma verdade é incontestável: Epstein foi uma das figuras importantes nos bastidores da criação do Fab Four.

Antes de tudo, deve-se perceber neste álbum que a maneira como o roteirista Vivek J. Tiwary aborda a trajetória de Epstein são recortes que não são atados às amarras da adaptação do mais alto grau de fidelidade. O autor mostra uma liberdade criativa de contar a história sem perder o foco no protagonista.
De acordo com o posfácio assinado pelo roteirista, a pesquisa sobre seu “mentor histórico” durou duas décadas, em consequência do choque que ficou ao descobrir quão pouca informação havia disponível sobre o empresariado dos Beatles.
Dentre outros recursos, o roteirista colheu depoimentos das pessoas do círculo de amizade e meio social do homem de negócios.

O quinto Beatle acompanha Brian Epstein desde a sua primeira visita ao The Cavern Club, o primeiro recanto onde a até então banda desconhecida apresentava seu rock’n’roll, no começo da década de 1960, até seu investimento empresarial para o grupo abraçar o mundo com sua música.
Partiu de “Eppy” a ideia do visual da primeira fase da banda. Os integrantes também eram censurados por ele a não falar palavrões ou fumar e se comportarem como solteiros. “Adeus”, jaquetas de couro e jeans; “olá”, ternos impecáveis.

Obstinado e convicto do sucesso desde o começo, o jovem empresário dizia sempre que os Beatles iriam ser maiores do que Elvis (há um obscuro encontro entre ele e o grotesco e implacável Coronel Tom Parker, o agente do “Rei do rock”). Essa meta arrancava gargalhadas das gravadoras, que não contavam com seu tino para os negócios.

Epstein chegou a comprar milhares de discos para a loja da família que administrava em Liverpool, a Nems, e a pedir aos funcionários que ligassem constantemente para as rádios para que Love me do ou Please please me subissem nas paradas britânicas.

Num dos momentos mais criativos da narração da obra, Brian é colocado diante de três momentos distintos da sua vida – no exército, na gravadora e no ateliê de alta costura –, e todos convergem para uma única sentença que prova o quanto ele tinha força de vontade para seguir em frente.

O autor também preenche lacunas pouco conhecidas em momentos cruciais da carreira dos Beatles. Uma delas é a negociação surreal de Epstein com Ed Sullivan para trazer os Beatles para a América, há 40 anos. Na visão de Tiwary, as propostas e contrapropostas foram discutidas entre o empresário, o apresentador de TV e um boneco de ventríloquo, que dava voz a Sullivan.

O roteirista até “tira onda” dessa passagem no posfácio, deixando no ar se ela existiu ou não. Além disso, levanta outras questões capitais abordadas no álbum, como a gravidez da namorada de Lennon, Cynthia, e a misteriosa assistente pessoal Moxie.

Recursos como esses são comumente usados em adaptações cinematográficas, mas também aparecem no mundo das HQs. Um exemplo é o quadrinhista alemão Reinhard Kleist no álbum Johnny Cash – Uma Biografia (8inverso) misturar as letras da música com a vida do cantor e compositor.

A força motriz em O quinto Beatle é captar a essência de um homem de vanguarda. Para este fim, vale o exercício criativo, principalmente porque o personagem não é apenas um bondoso ser humano. O pior inimigo de Brian Epstein é o próprio Brian Epstein.
Solitário e homossexual em uma época que havia leis na Inglaterra que coibiam severamente a “opção” sexual (que foi derrubada um mês antes de sua morte prematura, aos 32 anos), Brian teve um envolvimento maior com drogas prescritas por vários médicos para diminuir sua ansiedade, insônia, solidão e ajudá-lo a lidar com o “outro problema” das “tendências íntimas”.

Além de ter permanecidoquatro semanas consecutivas na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times, O quinto Beatle recebeu este ano duas indicações ao Eisner Awards, nas categorias de Melhor Trabalho Baseado na Vida Real e Melhor Pintor/Artista Multimídia, para Andrew C. Robinson.
Uma arte em belíssimas aquarelas que são um show à parte. Com pleno domínio de composição e diagramação dinâmica, o traço de Robinson – naturalista e cartunesco ao mesmo tempo – fortalece ainda mais a transmissão de liberdade criativa desvencilhada dos grilhões racionais que a obra pede.

Um dos destaques são as páginas do assassinato do presidente Kennedy, que deram muito trabalho ao artista, como confidenciado nos extras da edição, principalmente por causa da busca de movimento.
Com o processo de criação também pormenorizado no final do livro, a capa traduz e resume o que foi a vida do personagem principal: um toureiro que tentava domar os obstáculos intransponíveis, que agiu nos bastidores com os pés no chão enquanto alavancava seus “meninos de ouro”. Uma pessoa solitária que queria atenção e amor, mas abdicou disso para focar na maior tourada de sua vida, tão trágica e dramática quanto recitar Shakespeare.

Além das aquarelas de Robinson, a HQ conta com uma participação do premiado Kyle Baker (de Plastic Man), que ilustra com um traço mais cartunesco e estilizado as bem-humoradas páginas da desastrosa turnê dos Beatles pelas Filipinas, em 1966.

O título marca a entrada da Aleph no universo editorial dos quadrinhos. Bem cuidada, a edição tem um formato que chama a atenção (21 x 31 cm), capa cartonada com orelhas, ótima impressão em papel couché fosco de altíssima gramatura (170g) e um preço bastante convidativo, pela qualidade gráfica.
A edição ainda tem introdução do cantor Billy J. Kramer, texto do ex-empresário e produtor dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham, uma carta do ativista Howard Cruse, da Freedom To Marry, organização que faz campanha pelo direito ao casamento homossexual nos Estados Unidos, além de extras como o processo artístico de Andrew Robinson, memorabilias de colecionadores e amigos de Brian Epstein, e uma bem-vinda seção de notas da edição brasileira escritas pelo tradutor Delfin.

Apesar de não prejudicar a leitura, o volume tem alguns escorregões de revisão: um “que que” na página 54, um “IEU…” na 95 e um “…filhos encantadores, Kavi ‘and’ Nandini…” na biografia de Vivek Tiwary.

Além disso, o autor cometeu um equívoco histórico: situou a morte de Epstein, em 27 de agosto de 1967, quando John, Paul, George e Ringo faziam um retiro espiritual na Índia. Na verdade, no fatídico dia, os rapazes de Liverpool estavam em Bangor, no País de Gales, para serem iniciados em meditação transcendental por Maharishi Mahesh Yogi.
Outra liberdade do autor? Para Tiwary, um produtor de cinema, TV e espetáculos da Broadway, seria até justificável…

O quinto Beatle é uma síntese do que foi amar um sonho, vivendo intensamente o objetivo – e não a vida, que foi sacrificada na arena – até que o tal sonho simplesmente acabasse um dia.


O Quinto Beatle
Autores: Vivek J. Tiwary(Roteiros) e Andrew C. Robinson e Kyle Baker(Arte) 
Formato 21 x 31 cm, 168 páginas, 
Preço:R$ 59,90
 


 
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 (Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 06 de junho de 2014)

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Trailer hq "O Quinto Beatle"





O Quinto Beatle
Autores: Vivek J. Tiwary(Roteiros) e Andrew C. Robinson e Kyle Baker(Arte) 
Formato 21 x 31 cm, 168 páginas, 
Preço:R$ 59,90


 
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