domingo, 14 de abril de 2024

Os 34 anos de Darkman - A vingança sem rosto, por Lucas Freitas


Bem, não exagero ao dizer que Sam Raimi é um de meus diretores favoritos.

Apesar de ter sido impactado desde cedo, como boa parte da geração que cresceu nos anos 2000, pelo papel de Raimi como diretor dos filmes do Homem-Aranha - a primeira versão, com Tobey Maguire no papel principal - foi só muito tempo depois que comecei a atentar não só no papel, mas também no estilo, do diretor. E isso graças a “Uma Noite Alucinante” (Evil Dead II, 1987).

Para quem nunca viu esse filme, ele é uma sequência/reboot do “A Morte do Demônio” (The Evil Dead, 1981), que nos apresenta a história de um grupo de jovens que fica preso em uma cabana no meio de uma floresta, sendo perseguidos pelos espíritos demoníacos invocados a partir da leitura do Necronomicon. Mas, enquanto o primeiro filme é um filme de terror no sentido mais tradicional, “Uma Noite Alucinante” parte para um misto de terror, humor negro e ação, apresentando praticamente a mesma história, mas adicionando novos elementos e alterando uma série de pontos.

No entanto, o que realmente me pegou nesse filme, e que me fez correr atrás de toda a filmografia de Sam Raimi, foi a energia que parecia pulsar do filme. Sendo um projeto realizado entre amigos de longa data, existia, de fato, uma grande diversão no período das filmagens, mas também é muito mais que isso. Com uma câmera extremamente fluída, Raimi é um daqueles diretores que conseguem levar o espectador por um passeio visual, colocando-o em movimento junto com seus personagens enquanto apresenta tomadas e transições únicas.  Não só isso, ele possuí um senso de timing e de ritmo espetacular, conseguindo contar uma história em um ritmo acelarado, mas que nunca chega a ser corrido, e alternando os momentos de humor, horror e ação com uma maestria única.


Essas características sempre acompanham os filmes do diretor que, mesmo em suas produções mais fracas, consegue criar uma experiência única e divertida, destoando sempre do feijão com arroz das grandes produções. De fato, tenho para mim que, mais do que um contador de histórias, Raimi é um apaixonado pelo cinema, e é essa paixão que ele sempre deixa aparecer em suas produções.


Mas então, toda essa introdução está aqui apenas para apresentar aquele que considero ser um dos filmes mais fascinantes do diretor mas que, ainda assim, não é tão conhecido ou comentado como a franquia Evil Dead ou  suas produções mais recentes, como o próprio Homem-Aranha ou o Arraste-me para o Inferno: Darkman.


Conhecido por aqui com o título de “Darkman - Vingança sem Rosto” (Darkman, 1990), o filme nos apresenta a história do cientista Peyton Westlake, que tem sua pesquisa sobre peles sintéticas brutalmente interrompida pelo ataque de uma gangue, que destrói seu laboratório. Apesar de sobreviver à explosão, Peyton é terrivelmente desfigurado pelo fogo, sendo submetido a uma cirurgia experimental que corta parte de seus nervos, impedindo-o, assim de sentir qualquer tipo de dor ou mesmo a sensação de tato. Por mais que isso possa lhe parecer uma benção, o tratamento que o livrou da dor traz, como efeito colateral, a perda de sua capacidade de regulação emocional, além de resistência e força sobre-humana em situações de grande estresse devido à liberação de adrenalina desregulada de seu sistema nervoso. Restaurando seu laboratório, o cientista parte então em busca de vingança, utilizando seus novos “poderes” e suas peles sintéticas - que não pode ficar muito tempo exposta à luz - ao mesmo tempo em que busca retomar a vida que perdeu.

E vamos ficar por aqui para evitar entrar no terreno dos spoilers.


Se você nunca viu Darkman, eu recomendo bastante a experiência. Apesar da trama em si ser algo relativamente simples, a atuação de Liam Neeson como Peyton Westlake já é, por si só, digna de ser vista. Aqui, o ator dá ao personagem um peso e uma gravidade memoráveis, uma vez que o ator dá um show nas transições repentinas e abruptas emocionais de seu papel, e isso sem jamais descambar para o ridículo ou para o muito exagerado.

Não só isso, a própria construção de mundo de Darkman é algo digno de nota. Numa época em que filmes baseados em quadrinhos ainda eram uma parte bem pequena do meio cinematográfico, é curioso ver como a inspiração dos quadrinhos é bem forte no filme, ainda mais para um personagem original. Tanto no estilo quanto na narrativa, é notável o quanto as histórias em quadrinhos influenciam a construção desse mundo, seja no drama de Peyton e em sua relação conturbada com Julie Hastings (Frances McDormand), ou mesmo no tom exagerado e nas ações caricatas de seus vilões. Estes, são um espetáculo à parte, mais parecidos com personagens tirados de das histórias de Dick Tracy, cada um marcado por maneirismos, tiques e tocs extremamente específicos.


E unindo tudo isso, temos o estilo único de Raimi, com sua câmera fluída, tomadas inusitadas, cortes e transições cuidadosamente calculados, e aquela energia frenética, maníaca, até, que sempre conseguimos ver em seus melhores momentos.

Bem, e se isso tudo ainda não foi o suficiente para te convencer a dar uma chance ao filme, considere que temos aqui uma planta baixa daquilo que o diretor fará anos depois em Homem-Aranha.


Mas isso será uma conversa para um outro dia.


Até a próxima!




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